A data de 8 de dezembro de 2020 instituiu-se de significância. É quando finalmente começou a vacinação contra a maior calamidade sanitária que já sofremos em vida, que já causou mais mortes do que algumas guerras. Trata-se do início do fim da pandemia, desta ao menos, e a perspectiva de um novo começo para toda a população do planeta.
Os britânicos sairam na frente, e não é surpresa dada sua histórica tradição de protagonismo. Não de prenderam a embromar concorrências estrangeiras em relação às suas iniciativas próprias .
A vacina britânica desenvolvida pela universidade de Oxford e fabricada pelo laboratório AstraZeneca é bastante promissora mas simplesmente não está pronta ainda. O atraso se deve a erros de testagem, não à vacina em si. Já a desenvolvida pelas empresas Pfizer (norte-americana) e BioNtech (alemã) está testada e aprovada, assim como a de outro laboratório dos EUA, Moderna. Os britânicos obviamente utilizarão sua própria vacina sem pestanejar, tão logo fique pronta. Outros países seguirão o exemplo.
O fato repercute no Brasil, onde a vacinação virou disputa política. O governo federal apostou na Oxford-AstraZeneca e tinha anunciado o início da imunização para final de fevereiro. Por sua vez, governos estaduais como os de São Paulo e do Paraná investiram em vacinas concorrentes, que podem estar prontas antes.
No alvoroço de cobranças, o governo federal já mudou o tom, admitindo adquirir quantidades da Pfizer-BioNTech para aplicação emergencial ainda neste dezembro. Dias atrás, o ministro da Saúde assegurou que a chinesa Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantã, seria comprada assim que estiver pronta e aprovada. O mesmo deve valer em relação à russa Sputnik V e outras.
Aguarda-se com grande expectativa as decisões e desdobramentos dos próximos dias em relação às vacinas aqui mencionadas e às demais que estão em testagem final. Com certeza, vontade política (ou apolítica) é boa parte da questão, mas pesam também os fatores de infra-estrutura e logística.
Diferentes vacinas foram concebidas utilizando-se diferentes metodologias. Algumas, por exemplo, partem de vírus debelados, outras de princípios ativos sintetizados. Devido a tais diferenças, existem implicações nas respectivas implementações, e o fator crítico do produto da Pfizer/BioNTech é seu transporte e conservação em temperatura de 70 graus negativos. Já é uma dificuldade para o mundo do hemisfério norte, que dirá em países de clima tropical como o nosso.
No aspecto operacional, é de se perguntar o que efetivamente existe no Brasil para que, além de vacinas, também esteja disponível à população a gigantesca quantidade de seringas e demais utensílios de aplicação. Esperamos que já exista efetivamente um planejamento para isso, pois era para “ontem”.
O ministro Pazuello fez também menção de que se vacinará quem quiser, não será obrigatório. Aí é preciso discernimento pois há casos e casos.
Pessoas de grupo de risco que conseguem viver em confinamento não deveriam ser obrigadas a deixar o que têm de segurança e proteção doméstica para arriscar-se deslocando-se até locais públicos. Votar pessoalmente já foi uma temeridade para essas pessoas. É justamente o grupo a ser prioritariamente atendido, após os profissionais de saúde, portanto faz-se necessário aí um cuidado maior.
Por outro lado, cabe às autoridades avaliarem se nos casos de atividades de atendimento público os profissionais deveriam ser submetidos à imunização obrigatória, e eu entendo que sim por se tratarem de situações típicas de contágio. Não quer se vacinar, preferindo aguardar um pouco mais, que se tranque em casa. Se quer ou precisa sair, que seja vacinado o mais rápido possível.
Em relação a reações alérgicas, e já há ocorrências desse tipo na vacinação britânica, é uma preocupação com qualquer tipo de vacina, impossível descartar. O importante é que unidades de vacinação estejam preparadas para o devido socorro nestes casos.
Mesmo com as facilidades do Reino Unido, ainda assim a vacinação por lá é lenta, já que inicialmente foram disponibilizadas apenas 400 mil doses para uma população de 67 milhões. Provavelmente se acelerará com a aquisição de doses dos demais fabricantes, assim que receberem aprovação.
Cientistas também alertam que as pessoas vacinadas ainda precisarão usar máscara e cumprir normas de distanciamento social, ao menos por algum tempo. A explicação é de que se, por um lado, vacinas aprovadas como da Pfizer-BioNTech e Moderna demonstraram eficiência na prevenção da doença (Covid-19), ainda não se sabe se elas impedem pessoas, mesmo vacinadas, de se infectar e espalhar contágio. É algo a ser observado na prática e, pelo sim pelo não, melhor não subestimar.
De qualquer forma, para os britânicos clareou-se a luz no fim do túnel e já se vislumbra uma perspectiva de vida pós-pandemia, enfim o início de um começo. Nós, do Brasil, queremos e merecemos ter isso também. Portanto se liguem, autoridades, entendam-se de uma vez por todas, e não nos façam esperar.
Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS
Por: Augusto Licks
Jornalista e músico. Como jornalista, foi editor de rádio e TV em Porto Alegre, colunista de O Estado de São Paulo Online, e atualmente colabora com o jornal O Progresso de sua cidade natal, Montenegro/RS. Como músico foi o guitarrista da fase de sucesso dos Engenheiros do Hawaii, manteve uma importante parceria com o cantor e compositor Nei Lisboa, é autor de trilhas para cinema e teatro, além produtor musical. Apresentou-se em centenas de shows no Brasil, incluindo eventos como Rock In Rio e Hollywood Rock, e em países, como Rússia, Japão e Estados Unidos.
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