Futuro do jornalismo: saiba como Blockchain e IA estão impactando a profissão

Por Rodrigo Pedrosa com contribuição de Manoela Meneses
(Imagem gerada pela Inteligência Artificial do Dall-E)

O avanço da Inteligência Artificial Generativa e da tecnologia Blockchain tem gerado curiosidade, especulação e até mesmo receio no jornalismo. Embora a profissão já seja considerada vulnerável por diversos motivos ao longo dos anos, é a primeira vez que se fala em completa extinção de cargos.

Essa situação tem exigido que encontremos novas soluções para os desafios da profissão. Felizmente, essas tecnologias também trazem entusiasmo e perspectivas promissoras para o futuro. Segundo a jornalista Eleonora Paschoal, “muita coisa mudou nos últimos 20 anos e o impacto tecnológico é irreversível e muito marcante.O resultado do impacto tecnológico veio tanto para coisa legal quanto para coisa ruim”. 

Vamos embarcar a seguir em uma ampla discussão sobre o que esperar do futuro do jornalismo, as mudanças do mercado, o impacto das novas tecnologias, as ameaças  e quais decisões tomar na linha de frente que envolve conservadores, céticos e entusiastas. (Com o adicional imperdível de depoimentos de jornalistas, especialistas em inovação e tecnologia, assessores de imprensa e muito mais).  

Quais são as principais fases da história do jornalismo?

A busca por um jornal impresso na banca pode parecer uma memória distante para muitas pessoas, mas o fato é que o jornalismo tem sido moldado pelo futuro há bastante tempo. De modo geral, a comunicação foi uma das áreas que mais passou por evoluções desde a sua criação — e não precisamos de muita pesquisa para adivinhar que quem não acreditou que as mudanças viriam acabou ficando para trás. 

Desde os primórdios da imprensa, com correspondentes do jornal Acta Diurna, em 69 a.C, a forma como a informação é produzida vem passando por constantes transformações. Com a chegada da prensa de Gutenberg, considerada um dos maiores saltos tecnológicos da história, iniciou-se a era das máquinas, que revolucionou a produção e a disseminação de informações na Idade Média. A dificuldade de adaptação a essas mudanças transformou completamente o perfil do jornalista ao longo do tempo.

Regulamentação da profissão

Já na era industrial, surgiram os primeiros cursos de jornalismo, juntamente com a regulamentação da profissão e a criação do conceito de Liberdade de Imprensa. Tudo corria muito bem, o jornalismo em papel parecia confortável e alguns profissionais podiam até mesmo ser considerados acomodados.

Mas, então, aconteceu algo que ninguém no segmento esperava: a chegada do rádio. Em um piscar de olhos, os anunciantes migraram para essa nova plataforma. Em 1927, veio a TV que, por sua vez, se transformou em ameaça constante ao sucesso do rádio. Figuras famosas até tentaram resistir, não teve jeito. A TV alcançou o status de veículo de mídia mais popular, até a chegada do Webjornalismo. 

O golpe, aqui, foi muito mais cruel com os conservadores. Não era somente um novo meio de divulgar notícias que levariam os anunciantes embora, a internet possibilitou que qualquer pessoa pudesse divulgar informações e, mais uma vez, a importância da profissão entrou em cheque.

Números emblemáticos 

Podemos citar um emblemático exemplo, o “Jornal do Brasil”. Criado em 1891, o veículo foi um dos jornais mais importantes do país até que deixou de existir na versão impressa em 2010. Em fevereiro de 2017, um arrendamento tentou trazer fôlego e até conseguiu colocar o JB de volta às bancas. 

Porém, pouco mais de um ano depois, foi decretado o encerramento de uma vez por todas do impresso com permanência apenas do digital. Na época, o empresário Omar Catito Peres que era o responsável pela retomada frustrada declarou que o jornal impresso não tinha mais nenhum tipo de futuro no Brasil. 

E não pense que isso é uma dor apenas de jornais que circularam por longos períodos e perderam o interesse do leitor, nos últimos anos vimos publicadoras inteiras anunciaram demissões em massa ou simplesmente encerrarem as atividades. Em 2022, um levantamento feito pelo IVC (Instituto Verificador de Comunicação) mostrou que os jornais impressos tiveram uma queda de 7,7% e até mesmo o digital, teve uma alta tímida de 4,4% em assinaturas. 

Carreira vulnerável 

Se você atua na área do jornalismo e da comunicação de modo geral, sabe que sempre há uma sombra ameaçadora pairando sobre a profissão. A quantidade de demissões que ocorrem toda vez que uma grande mudança acontece é surpreendente. Quando não conseguem encontrar novas formas de atuar na área, muitos jornalistas acabam se arriscando em carreiras completamente diferentes, que oferecem mais segurança e estabilidade.

Agora, com a chegada de tecnologias disruptivas, como a Inteligência Artificial, recursos da Web3 e Blockchain, como fica o mercado? Esta é uma pergunta que certamente passa pela cabeça de quem se atenta aos desdobramentos da profissão. Mesmo os mais céticos em relação às novidades precisam abrir os olhos para não ficarem para trás. 

Segundo o jornalista freelancer Paulo Sérgio Pires, o jornalismo está em fim de festa. “A fase áurea do jornalismo passou e o que virá ninguém sabe exatamente. Estamos de certo modo num processo de regressão, em que o jornalismo vem perdendo seu status de Quarto Poder”, explica ele.

Urgência em atualização

E não pense que é uma situação em que é possível optar pela procrastinação com a desculpa de que, no momento da necessidade, você corre atrás. Nada disso! Com a velocidade que estas tecnologias avançam, a percepção dos recursos disponíveis e os impactos gerados, não pode ser deixado para o mês que vem ou nem mesmo para a semana que vem. A urgência envolvida está em se atualizar agora.

“É natural evoluirmos e termos novidades, a questão é não deixamos para aprender e viver elas no futuro, é preciso foco no agora. Por isso, mais do que ler sobre, gosto de ser uma testemunha em tempo real in loco virtual, participar o máximo possível do que é aberto ao público, compartilhar experiências com outros profissionais da área (principalmente tecnologia)”, conta Joel Minusculi, jornalista e gerente de mídias digitais da Oficina das Palavras”.

Ida Nuñez, jornalista, assessora de imprensa e locutora profissional, se divide entre otimismo e receio em sua área. “Antes uma gravação, principalmente de áudio para rádio ou escrita, consumia pelo menos 3 horas de transcrição para cada texto. Agora com a transcrição instantânea, se você gastar 40 minutos é muito. A tecnologia nesse sentido ajudou muito! Agora uma coisa que é ameaçadora: eu por exemplo sou jornalista e locutora profissional, trabalho com isso há muito tempo mas vejo esses novos recursos de forma realmente ameaçadora”.

Inteligência Artificial 

É evidente que o jornalismo funciona cada vez mais com uma dinâmica de adaptações. Por isso, a postura conformista pode significar ficar completamente obsoleto e só perceber quando sentir a corda no pescoço. “A cada dia ficamos um pouco ultrapassados, por isso, precisamos nos atualizar sistematicamente. Acho que há muita disponibilidade de treinamentos online para nos capacitar e aperfeiçoar. Para isso basta apenas querer, mas quem quer realmente?”, defende o jornalista freelancer Paulo Sérgio Pires. 

E ao falarmos sobre Inteligência Artificial é preciso destacar a tecnologia generativa da qual faz parte o ChatGPT. Com uma combinação de desconfiança e entusiasmo em diversas áreas, não tem como negar que este chatbot, criado pela OpenAI, chegou para sacramentar uma nova era na comunicação e no jornalismo de modo geral. 

A partir de um prompt (comando) do usuário, a tecnologia desenvolve conteúdos de textos complexos, faz inserção de respostas em provas e até mesmo cria poesias, cartas e músicas. Tudo é feito com uma linguagem fluente, original e com o levantamento de informações em poucos segundos.

Mudanças nas atividades humanas

Fato é que com a aplicação deste tipo de recurso, as atividades humanas prometem mudar rapidamente. Os profissionais de diferentes áreas se tornarão mais rápidos e melhores em suas empresas e alguns serão capazes de fazer tarefas que não podiam fazer antes. 

Sem contar que novos tipos de empregos serão criados, enquanto outros cargos serão rebaixados ou até mesmo eliminados. De acordo com um estudo feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), a previsão é que a Inteligência Artificial tenha impacto em cerca de 27% dos empregos existentes no Brasil. 

Até o ano de 2030, em média 15% dos empregos globais serão deslocados. A IA chega com a capacidade de revolucionar o mercado como nunca foi visto antes, mas isso não significa que é preciso ter medo e evitar este tipo de mudança.

Tenho visto muita gente externando opiniões do tipo, com medo, com espanto, mas que simplesmente não usou a Inteligência Artificial. O ChatGPT e toda produção sintética, a IA generativa não é a substituição das pessoas. Quem demorar para entrar nisso, quem virar as costas para essa tecnologia, estará indo contra suas próprias possibilidades”, destaca Arthur Igreja, TEDx Speaker, Especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências.

Guilherme Conde, editor chefe do Correio Regional São Paulo e diretor de comunicação e marketing da agência ComunicaConde, acredita no papel do jornalista diante da inovação. “Para a produção de conteúdo, ferramentas como o ChatGPT são excelentes, no entanto, cabe ao jornalista fazer a revisão do que foi produzido pela ferramenta. Afeta positivamente.”

Já para Paulo Sergio Pires, jornalista freelancer, é preciso tomar cuidado com a sobrevivência da profissão. “Tecnologias para a imprensa podem ser benéficas e bem-vindas, mas também têm a chance de ameaçar a sobrevivência da profissão. Com certeza, esse advento reduz a função dos jornalistas, mas por outro lado pode talvez ajudar os usuários finais da informação. Ainda é cedo para reconhecer os desdobramentos.”

Impactos no jornalismo

De modo geral, a IA generativa impacta o jornalismo em várias atividades. Entre os principais exemplos estão gerar notícias automaticamente, identificar tendências e padrões em grandes volumes de dados e melhorar a precisão e a velocidade da verificação de fatos com o intuito de combater notícias falsas. 

Sobre o uso da IA generativa no ChatGPT, Joel Minusculi, jornalista e gerente de mídias digitais da Oficina das Palavras, acredita que é natural o ser humano resistir a mudanças e que existem dois olhares em relação à situação. Toda novidade gera desconforto, porque é natural do ser humano resistir a mudanças. E com isso vejo que há dois grupos: os apocalípticos de sempre, que gostam de matar o velho quando surge algo novo, e os entusiastas (que me vejo mais no segundo grupo).”

O CEO da Dishubtive, Eduardo Salvalaggio, também faz parte da turma dos entusiasmados. “Quando falamos em tecnologia generativa, sua maior vantagem é produzir conteúdo customizado, 1 to 1, em escala. Eu imagino em um futuro muito próximo, uma matéria original sendo utilizada como base, mas escrita de forma diferente para cada leitor, com base no seu perfil. Quanto às ferramentas, existem várias, mas pra mim o ChatGPT é revolucionário: com uma instrução ou pergunta bem elaborada, você pode obter as funcionalidades de qualquer outra ferramenta existente e ainda criar texto original.”

Tecnologias em Blockchain

Se você franziu a testa e fez cara de “Blockchain, o que é isso?”, ligue o alerta vermelho. É comum postergar o entendimento sobre as novidades — faz parte da natureza humana buscar a zona de conforto. Acreditamos que elas não vão nos atingir. Como diria o saudoso Belchior “é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.

Várias empresas já pensaram dessa forma e acabaram ficando para trás, como a Blockbuster, a Kodak no mercado de consumo e tantas outras. Isso sem mencionar vários jornais. Mas basta dar uma rápida olhada por aí para notar que a Web3 chegou ao universo da comunicação com força total. Inclusive, vale ressaltar que foi a tecnologia do blockchain que permitiu a criação de moedas digitais como o Bitcoin que é muito comentado atualmente. 

Em resumo, blockchain pode ser definido como uma rede de blocos digitais conectados uns aos outros. Cada um deles tem o seu próprio conjunto de dados e os dados do seu antecessor. Esses blocos são armazenados em diversos computadores da rede (nodes) espalhados por todo o mundo. Assim, mesmo que um dos computadores seja invadido ou que as informações tentem ser corrompidas maliciosamente, elas não serão validadas pela rede que preserva a informação original.

Isso faz com que o Blockchain seja considerado extremamente seguro ao armazenar informações e formalizar acordos por meio de smart contracts (contratos inteligentes que se auto executam) ou realizar transações com criptomoedas de forma descentralizada, sem passar pelo controle de governos ou instituições específicas.

“Potencialmente, a tecnologia pode ser utilizada para transmitir informações criptografadas dentro da rede, fazendo sair informações que seriam bloqueadas de um país onde houvesse censura e/ou restrição ao jornalismo. Seria uma espécie de “túnel”, por onde as informações jornalísticas vedadas por um regime de exceção, poderiam entrar e sair”, relata Jacinto Carlos Godoy, consultor de tecnologia da Softtek Brasil. 

Qual a Interferência da tecnologia nas profissões da área de comunicação? 

Com tantas mudanças e circulações cada vez mais rápidas de informações, o jornalismo pode ser automatizado em diferentes atuações. Mas até que ponto existe a possibilidade de cargos serem extintos? E, afinal, o que nunca será substituído por mais que a tecnologia Blockchain e a Inteligência Artificial evoluam? 

Com a clareza de quem atua em várias vertentes do jornalismo e já passou pelos maiores veículos do Brasil como repórter, a jornalista Eleonora Paschoal acredita que a IA generativa será de grande ajuda, mas não substitui a observação. “Eu acho que a inteligência artificial vai agilizar as pesquisas, mas não vai substituir o camarada que escreve, ele não vai substituir a visão que a gente tem das coisas porque é preciso ter muita observação para escrever um bom texto. A Inteligência Artificial, por mais eficiente que seja, não é uma pessoa que consiga observar.” 

Em reforço ao que diz Eleonora, Gabriel Albuquerque, CEO da Loomi, também acredita no potencial único humano que a tecnologia não consegue alcançar. “A paixão, a originalidade, a novidade, são fatores que a tecnologia desconhece. Então o que nunca será substituído com certeza é o olhar estratégico e a originalidade.”

Arthur Igreja, TEDx speaker, especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências, enxerga a IA como um estagiário. “O que está muito claro para mim é que o ponto de partida não vai mais ser humano. O humano vai dar o contorno, o acabamento, será mais ou menos como se a IA generativa fosse um estagiário, um assistente, fazendo essas versões iniciais e entendendo cada vez mais como fazer essa requisição.”

Funções modificadas

Quem é familiarizado com a dinâmica de uma redação até o início dos anos 2000, percebe o quanto as funções foram modificadas. Atualmente, é cada vez mais comum que profissionais acumulem diversas tarefas que antes eram divididas entre grandes equipes. Além disso, atividades que eram primordiais no jornalismo impresso estão sendo gradualmente deixadas de lado.

Joel Minusculi, jornalista e gerente de mídias digitais da Oficina das Palavras enxerga a oportunidade de evolução com foco na otimização do tempo “extinguir não seria a palavra apropriada, mas sim evoluir, pois a base ainda está lá, só feita de uma maneira diferente com as novas tecnologias.” Ele complementa com um olhar positivo sobre a utilidade da IA na realização de tarefas tediosas “a ideia é que as novidades tecnológicas facilitam a nossa vida, no sentido de realizarmos tarefas tediosas e massivas em menos tempo, sobrando mais tempo para darmos significado para as coisas.” 

Em contrapartida, Eduardo Salvalaggio, CEO da Dishubtive, acredita na realidade da extinção “algumas tarefas serão extintas, principalmente aquelas que são rotineiras e repetitivas, como a transcrição de uma entrevista ou a classificação de notícias. Contudo, a investigação, a empatia e a tomada de decisão ética ainda são domínios exclusivos do ser humano.”.

Ao questionarmos o próprio ChatGPT, a resposta é enfática: “é importante notar que a IA tem o potencial de substituir os jornalistas em algumas tarefas, como na geração automática de notícias.”

Como identificar o papel do jornalista diante da ampla utilização da IA na produção de conteúdo?

Existem diversos tipos de pressões com as quais os profissionais precisam lidar dentro do jornalismo e da comunicação. Muitas vezes, por conta da demora do retorno de uma fonte, a matéria especial precisa ser produzida na correria e metade do que foi idealizado inicialmente para o conteúdo acaba ficando de fora.

Diante disso, é preciso refletir quão útil pode ser ter o auxílio de uma tecnologia que seja responsável por fazer o trabalho de pesquisa para que ele entre com a sua perspectiva e crie conteúdos muito mais elaborados e personalizados pelo simples fato de ter tempo disponível. São inúmeros desafios relacionados, inclusive, no que abrange também o trabalho e o relacionamento com o assessor de imprensa. 

“Eu diria que a tecnologia pode nos ajudar a produzir com mais qualidade e rapidez, de forma a minimizar a questão da sua proposta de matéria ser fria; ela pode te ajudar a ter uma fonte mais treinada e bem informada; pode chegar mais próximo daquilo que o repórter quer. A tecnologia pode facilitar o contato e o acesso ao jornalista que você precisa. Portanto, a tecnologia pode, sim, minimizar todos os desafios. Ela só não vai acabar com eles”, diz Pedro Cadina, jornalista e CEO e fundador da agência Vianews.

Interferência humana 

Em um futuro com ampla utilização de IA na criação de conteúdos, onde você enxerga o jornalista? Vamos considerar que quando a Revolução Industrial chegou, muitos trabalhadores perderam o emprego por conta da otimização dos serviços com o uso de máquinas. 

No entanto, boa parte deles conseguiu se manter útil no setor porque é extremamente necessário que alguém dê os comandos certos para que as máquinas produzam o esperado, faça o planejamento e aprimore os resultados. Muitos setores passam por este tipo de desafio, mas o que conta é o quanto os profissionais conseguem se preparar para continuarem fazendo a diferença diante do novo. 

Pare um pouco e pense em todas as transformações pelas quais o mercado do jornalismo passou, o que foi determinante para que os profissionais que se mantiveram com sucesso tivessem este resultado? O diferencial, neste caso, envolve aprender a enxergar a sua utilidade diante da imposição do futuro e se reinventar. 

Afinal, o jornalismo conta a história de forma imersa na realidade da sociedade. “Eu acho que os robôs vieram para ficar, não tem jeito. E eles podem ser muito úteis, por exemplo, na criação de notícias padrão, com dados estruturados, que não precisam de alguém criativo”, pontua Pedro Cadina, jornalista e CEO e fundador da agência Vianews. 

Ele enxerga ainda com bastante otimismo o papel do jornalista dentro deste novo contexto. “Eu acho que tem bastante espaço para quem tiver seus objetivos claros e quiser evoluir na profissão. Para isso, as palavras-chaves são qualidade, aprofundamento e entendimento de como funciona o mercado e do que tem que ser feito”, conclui.

Atuação na edição de conteúdo 

Os conteúdos gerados pela IA podem até apresentar uma linguagem natural e trazer informações relevantes que dificultam muito a tarefa de identificar se foi um humano ou uma máquina o responsável pelo trabalho. Entretanto, o material criado a partir da tecnologia precisa ser feito com o prompt (comando) eficiente e uma curadoria estratégica até que alcance o seu objetivo. 

“O papel do jornalista no futuro com a ampla utilização da IA na produção de conteúdo será evoluir para se concentrar em atividades que exigem habilidades humanas únicas, como investigação jornalística aprofundada, contextualização e interpretação de notícias e análise crítica. Além disso, o jornalista será responsável por garantir a ética e a verificação de fontes em relação ao conteúdo gerado pela IA, bem como por educar o público sobre o uso da tecnologia na produção de notícias e outros conteúdos, destaca Cleber Marques, Head de Analytics na Inmetrics.”

Uma das principais funções do profissional dentro dessa nova perspectiva de mercado é atuar na criação de prompts. Isso significa saber dar os comandos certos, ou seja, escrever frases que possam ser corretamente interpretadas pela IA para obter um bom conteúdo. 

O jornalista também precisa revisar e editar os textos produzidos pela IA, além de atuar na curadoria de pautas. “a tecnologia generativa pode ser comparada a um smartphone, que possui diversas funcionalidades, mas é necessário saber utilizá-las de forma eficiente para obter resultados satisfatórios”, fala Fernando Resende, precursor na criação de negócios na Web2 e na transição para a Web3 com investimentos em IA e NFTs segmentados com a coleção PPK Models Club.

Engenheiro de Prompts

A IA é uma tecnologia que deve ser treinada para oferecer respostas adequadas aos usuários. Por isso, uma profissão que tem sido cada vez mais comentada é a de Engenheiro de Prompts, que é responsável por estruturar os comandos para que a plataforma possa oferecer resultados mais precisos.

A ideia é que seja possível elaborar prompts tanto simples quanto específicos para atingir o resultado pretendido. Então, quando você pede por um texto bastante detalhado, a plataforma se “esforça” para oferecer o mais próximo do resultado ideal. Porém, nem sempre ela consegue alcançar o máximo de precisão.  É justamente aí que entra o trabalho de estruturar o prompt até que tudo esteja completamente alinhado com as suas intenções no uso da IA.

Na atuação do jornalista, para que a ferramenta seja realmente útil, se torna fundamental que ele domine cada vez mais os comandos como forma de otimizar o tempo e receber resultados que façam sentido. Entender como isso funciona é tão importante que já é até mesmo possível pensar em um mesmo tipo de conteúdo modificado pela IA de acordo com o perfil de cada leitor. 

“Você escreve um texto, um leitor entra na área logada e clica na matéria. Nesse momento a I.A com base nos dados de quem é o cliente, roda um “Prompt” que copia a sua reportagem e pede uma adaptação do texto personalizada para o cliente. Imagine um texto sobre mercado financeiro personalizado e que converse ainda melhor com a mulher, médica, do interior de São Paulo. Ou até mesmo para o homem, sem nenhum estudo formal, de São Paulo Capital, o nome desse prompt é ELI5 (Explain Like I’m 5, explique como se eu tivesse 5 anos)”, conta Rafael Mendes, CFP® Sócio Monte Bravo Investimentos.

Visão de oportunidades

Este tipo de aprendizado vai ser determinante na definição de quem vai e quem fica no mercado e enxergar esta brecha como oportunidade é muito importante para sair na frente em um trabalho que fique redondo baseado nos pilares da profissão. “O potencial da IA no jornalismo nos próximos anos é vasto, e ela pode chegar ainda mais longe se usada de forma responsável e ética”, ressalta Cleber Marques, Head de Analytics na Inmetrics.

Dicas de comandos (prompts) para jornalistas

Saber o que está fazendo ao lidar com ferramentas de Inteligência Artificial generativa, como o ChatGPT, é fundamental para entender como elas impactam positivamente o seu trabalho. Por este motivo, você deve seguir algumas dicas que fazem toda a diferença neste processo. Confira: 

  • escolha palavras fáceis e objetivas e utilize sempre uma linguagem específica;
  • priorize comandos curtos sem palavras ambíguas para que o sistema processe a sua informação de maneira mais rápida;
  • inclua informações relevantes dentro de um contexto;
  • teste diferentes estratégias de prompts;
  • continue sempre treinando o que mais funciona com a IA de acordo com as suas necessidades;
  • repita comandos, afinal, a mesma instrução inserida duas vezes gera resultados diferentes.

“O mundo pertencerá àqueles que souberem estruturar uma boa pergunta. O principal risco é quanto à produtividade nesse momento. Essas novas ferramentas podem ampliar facilmente em 10x o resultado do final do dia e isso muda o jogo. Nós criamos um produto de fachadas arquitetônicas que produziu em 1 semana com uma pessoa o que 1 escritório de arquitetura de médio porte não produz em 1 ano. A habilidade nesse momento é entender a tecnologia, entender como funciona e como extrair o máximo dessa nova parceria entre humano e máquina e como fazer boas perguntas para extrair resultados incríveis. Estabelecer conexões criativas é mais do que nunca importante, mas para isso é necessário repertório”, reforça Eduardo Salvalaggio, CEO da Dishubtive.

JOR- GPT

Durante um experimento prático para esta matéria, foram realizados testes nos “Grupos JOR”, uma comunidade de mais de 1.000 jornalistas divididos em cerca de 30 grupos no WhatsApp. A ferramenta utilizada foi chamada de JOR-GPT e tinha uma configuração de prompt que permitia que a IA generativa transformasse qualquer mensagem em uma nota de imprensa, utilizando regras de SEO e aspas personalizadas e originais.

A experiência do usuário aconteceu pelo WhatsApp em conjunto com a tecnologia do ChatGPT. Era necessário apenas o comando “!jor” seguido do tema da nota para receber o resultado da solicitação em poucos segundos e de forma gratuita. A principal ideia envolvia integrar os jornalistas com as tecnologias disponíveis para otimizar os afazeres da profissão e, assim, mostrar todo o potencial da IA na hora de aproveitar boas oportunidades. 

No primeiro contato com a Inteligência Artificial direcionada, muitos profissionais dos grupos perceberam o poder da ferramenta e pediram para utilizá-la no privado para desenvolverem o trabalho em privacidade. Afinal, é muito natural que a curiosidade em desbravar o desconhecido seja o sentimento prevalecente no início.

“Ao usarmos os recursos da Inteligência Artificial generativa na rotina de trabalho, conseguimos ver o tamanho da utilidade envolvida e aprender na prática. Afinal, nada funciona tão bem quanto colocar a mão na massa. Após o primeiro passo, o caminho até os desdobramentos da Web3, como tecnologia Blockchain, e as novas formas de monetizar conteúdo jornalístico passa a ser questão de tempo”, fala Fernando Resende, CEO da coleção PPK Models Club.

Em contrapartida, nem todos conseguiram sacar o potencial do JOR-GPT, outros ficaram com medo de lidar diretamente com uma tecnologia tão avançada que faz algo semelhante ao trabalho humano. “A inteligência artificial é algo realmente assustador, pois ela pode analisar enormes quantidades de dados e criar coisas que nunca imaginamos serem possíveis. Mas, ao mesmo tempo, ela pode ser incrivelmente útil e trazer soluções para problemas complexos que não conseguimos resolver sozinhos. Então, é hora de nos prepararmos para um futuro cada vez mais tecnológico e avançado”, reforça Rafael Mendes, CFP® Sócio Monte Bravo Investimentos.

Evolução para o GerAI 

Após a conclusão dos testes feitos com o JOR-GPT e muitos feedbacks positivos que validaram a necessidade de uma ferramenta prática e eficiente na rotina dos jornalistas, aconteceu a evolução para o GerAI. Trata-se de um Assistente Pessoal no WhatsApp baseado na tecnologia do ChatGPT, que oferece soluções inovadoras para tarefas pessoais, profissionais e entretenimento, de forma gratuita.

Aqui, os prompts foram substituídos por hashtags (#) pré-programadas em uma lista que já conta com mais de 30 funcionalidades e pode ser acessada no site do GerAI pelo link: https://gerai.com.br/hashtags/. Se inicialmente o sistema apenas elaborava notas de imprensa com SEO e mensagens-chave para Media Training, agora oferece uma série de funcionalidades que abrangem todo o público. 

Entre elas, destacam-se o resumo de texto em poucos segundos, sugestão de respostas personalizadas para conversas no WhatsApp, tradutor em vários idiomas, sugestão de palavras-chaves para SEO, criação de press release e blogposts, e elaboração de planos de negócios. Com tantas opções, o GerAI é capaz de otimizar tarefas que antes demandavam tempo e esforço manual, proporcionando praticidade e eficiência aos usuários.

Blockchain no jornalismo

É inegável que o jornalismo atual enfrenta muitos desafios e os profissionais se sentem encurralados com a sensação de que o trabalho não é devidamente valorizado. Por conta de sua alta segurança, a tecnologia Blockchain conquistou diferentes mídias e promete melhorar a credibilidade e a transparência no fluxo de trabalho. 

Trata-se basicamente de uma rede descentralizada que não é controlada por nenhum tipo de entidade ou instituição. Assim, pode ser aberto um caminho com informações mais imparciais e criativas dentro do modelo de trabalho do jornalista.

 “O profissional ganha toda a liberdade necessária para expressar sua opinião ou fazer denúncias. “A Web3 vai um passo além, mantendo todas as possibilidades até então, acrescentando um grau de independência, viabilizando as relações n para n, com um nível de confiabilidade e segurança inédito até aqui, graças ao diferencial proposto pela tecnologia blockchain, pontua, Jacinto Carlos Godoy, consultor de tecnologia da Softtek Brasil. 

Mercado bilionário

A estimativa é que o mercado global de Blockchain em mídia e entretenimento passe a valer US$1 bilhão em 2023. Outra questão que faz parte deste universo e se destaca na área do jornalismo é o NFT. A sigla se refere à “non-fungible token” (em tradução livre: token não fungível) que é um ativo digital único (não pode ser copiado) que funciona como uma espécie de certificado digital dentro da tecnologia de Blockchain. 

Muitos jornalistas acreditam erradamente que a tecnologia Blockchain está ligada apenas às criptomoedas e às bases monetárias. Porém, é essencial destacar que ela também abre um verdadeiro universo de possibilidades com o uso dos NFTs, a eliminação da dependência de anunciantes, a impossibilidade de censura por conta do uso de plataformas descentralizadas e o pagamento direto em criptomoedas dos leitores por conteúdos publicados na Blockchain que eliminam intermediários.

“Isso traz uma solução interessante para o problema da cópia de conteúdo e da replicagem sem autorização”, comenta Fernando Resende, CEO da coleção de NFTs PPK Models Club. Uma boa referência, neste caso, é o NFT criado pelo jornalista do New York Times, Kevin Roose. Ele escreveu uma coluna sobre o interesse crescente em NFTs e transformou o próprio texto em uma obra de NFT dentro da Web3. Em 24 horas, o trabalho foi vendido por aproximadamente US$560.000.

Mirror 

A plataforma Mirror.xyz surge como uma inovação para a conexão entre NFTs e textos jornalísticos, permitindo que o trabalho escrito seja vendido como um NFT e gerando participação em tokens na plataforma onde o material é publicado e armazenado permanentemente na cadeia de blocos.

O Mirror se descreve como uma organização autônoma descentralizada (DAO), de propriedade do usuário e baseada em criptografia, trazendo novas perspectivas aos meios tradicionais de imprensa e conteúdo. É importante ressaltar que, assim como na imprensa tradicional, a qualidade do conteúdo é um fator determinante para conseguir apoiadores nos projetos.

Nesse sentido, a jornalista Eleonora Paschoal destaca a importância de o consumidor saber escolher um jornalista especialista para garantir informações de qualidade “O mais importante é o consumidor saber definir, diferenciar, dividir e escolher. Da mesma forma que ele escolhe um médico especialista, escolher um jornalista especialista para dar a ele as informações que ele precisa porque ele vai realmente ter informações de qualidade”.

As fotos jornalísticas também ganham espaço dentro da proposta de comercialização na Web3. Uma das pioneiras é a Associated Press (AP) que entrou no mercado de NFTs com fotografias premiadas de seus fotojornalistas. A coleção inicial inclui algumas imagens que ficaram famosas ao vencerem o Prêmio Pulitzer. 

O investidor em NFTs segmentados com a coleção PPK Models Club, Fernando Resende, acredita que é comum as pessoas duvidarem do potencial de novos formatos. “Logo no começo da implementação da Web2 no Brasil, poucos acreditavam no potencial de divulgar os seus serviços on-line para aumentar o alcance de vendas. Foi preciso convencê-los. O processo de adaptação será semelhante com a IA e a Blockchain. Mas, aqui, basta que os resultados atuem no poder de persuasão.” 

Como as tecnologias estão mudando a forma de consumir conteúdos? 

Como o jornalismo é uma máquina responsável por contar a história, é fundamental que cada veículo consiga se adaptar ao que seu público deseja. E, claro que além das mudanças na forma que os profissionais trabalham, o mundo com IA e blockchain também impacta diretamente na maneira como a audiência consome conteúdo. 

Tecnologia 5G 

O lançamento do 5G trouxe uma série de questionamentos. De fato, existe uma necessidade de obter conteúdos inéditos cada vez mais desafiadores na rotina dos profissionais e o 5G representa uma das possibilidades de se reinventar. Isso porque é avanço para um patamar de altíssima tecnologia de navegação em que existe mais potência de processamento e possibilidades de armazenamento de conteúdos em computadores do mundo todo. 

O jornalista agora se encontra na figura de um piloto de um avião supersônico que precisa estar integrado em relação às expectativas da audiência e do potencial da ferramenta disponível. Com uma simples câmera nas mãos, o profissional acompanha um evento em tempo real e transmite os conteúdos na mesma medida que são captados. 

Com isso, acontece uma espécie de imersão no ambiente sem nenhuma interrupção ou defasagem de tempo, o que traz muito mais autonomia para quem acompanha. O grande desafio, aqui, é aprender novas formas de reportagens e edições na hora de apresentar notícias factuais e analíticas tendo o público como um potencial diretor. 

“A implementação da tecnologia 5G elevará a velocidade e segurança da transmissão de dados, que irá alavancar os downloads, uploads, aplicações de realidade aumentada, streaming, proporcionando novas e enriquecedoras experiências, em todas as áreas de conhecimento”, reforça Jacinto Carlos Godoy, consultor de tecnologia da Softtek Brasil. 

Realidade Aumentada

A possibilidade de acessar em detalhes qualquer tipo de conteúdo é um dos destaques da realidade aumentada. Na prática, a tecnologia imersiva representa uma maneira de potencializar o envolvimento com as notícias e trazê-las em primeira mão para o público, mesmo que estejam acontecendo do outro lado do mundo fisicamente. 

O carro-chefe, neste caso, é o Metaverso que por conta da tecnologia constituída no ciberespaço, consegue se “materializar” com a criação de mundos virtuais em 3D. No jornal “The New York Times”, a solução para que o material de realidade aumentada pudesse ser consumido de maneira massiva foi a criação de um aplicativo acompanhado por meio de um óculos tecnológico produzido com papelão. Assim, ficou mais simples incluir leitores que não teriam acesso aos vídeos com equipamentos caros.

“A Inteligência Artificial está mudando profundamente a forma como produzimos, compartilhamos e consumimos conteúdo jornalístico. A tecnologia está permitindo a automatização de tarefas repetitivas, como a coleta e análise de dados, tornando o processo de produção de conteúdo mais eficiente e preciso. Além disso, a IA também está ajudando a amplificar o alcance do conteúdo jornalístico, tornando-o mais acessível a um público global”, relata Rafael Mendes, CFP® Sócio Monte Bravo Investimentos.

Pioneirismo no mercado nacional

Existem dois exemplos de destaque no jornalismo nacional quando se fala de realidade aumentada. O primeiro aconteceu em 2016 durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Em uma parceria da TV Globo com a Samsung, foi exibido mais de 100 horas de transmissão em realidade virtual dentro de um aplicativo, criado pela marca coreana, com diversos ângulos das competições. 

Já o segundo, foi produzido pelo programa “Fantástico”, que em 2020 mostrou por meio da realidade virtual o assassinato de adolescente, morta por uma amiga em um banheiro com a reprodução do momento dos disparos dos tiros.

Sentido oposto

Muito se discute hoje sobre a necessidade do jornalista entrar neste formato de mídia para trazer as notícias ao mundo físico. No entanto, uma das principais tendências é fazer uma espécie de sentido oposto na disseminação da informação e migrar a notícia para dentro da tecnologia imersiva.

A ideia é que ele traga a sua audiência ao Metaverso na construção de um caminho muito interessante com a transmissão de guerras, eventos de vários segmentos, lançamentos, reconstituição de casos de crimes famosos, entre outros. 

Com o foco em aproximar o jornalista e aumentar o poder de alcance, as agências de comunicação, por exemplo, já encontram caminhos para se integrarem ao Metaverso na realização do trabalho. De fato, a união do mundo virtual com o real traz a chance de se destacar em novos formatos para eventos, coletivas de imprensa e branding.

Imagine, por exemplo, o lançamento de um tênis de corrida cheio de detalhes tecnológicos que precisam ser vistos de perto para entender quais são os diferenciais. Com o uso da realidade aumentada e da experiência imersiva no Metaverso, a marca e a assessoria responsáveis podem inserir o jornalista no contexto e fazer com que ele conheça cada detalhe da performance oferecida.

“O jornalismo tradicional em si já não existe há muito tempo. Já não existe isso desde a popularização da internet como web 2.0. Acredito que NFTs e o Metaverso trarão novas possibilidades para a profissão e o profissional de se reinventarem e assumirem novos papéis dentro desse novo mercado que está sendo criado”, diz Gabriel Albuquerque, CEO da Loomi.

Quais são as mudanças no relacionamento entre jornalistas e assessores de imprensa? 

Hoje já é possível ver uma forte mudança de comportamento na relação entre jornalistas e assessores de imprensa. Se antes o principal método de trabalho era enviar as sugestões de pauta por e-mail e, em seguida, fazer o follow-up para a redação, agora os telefones fixos são praticamente inúteis. 

Este processo foi acelerado durante a pandemia do Covid-19 que fez com que a maioria dos profissionais atuasse em regime home office e fechou permanentemente ou temporariamente muitas redações. Com isso, grupos de WhatsApp e comunidades se tornaram o principal meio de contato entre os dois lados. 

Um bom exemplo disso é a Comunidade JOR e os Grupos JOR no WhatsApp citados anteriormente na experiência do JOR-GPT. Dentro deste contexto, todos os profissionais participantes criaram uma estrutura de relacionamento que torna a comunicação simples e eficiente diante das principais dores envolvidas. 

“Foi necessário ampliar o networking para conseguir boas pautas sem sair de casa. Muito do que a gente construiu foi através dos Grupos JOR “, declara Guilherme Conde, editor chefe do Correio Regional São Paulo e diretor de comunicação e marketing da agência ComunicaConde.

Porém, este tipo de interação ainda sofre com inúmeros desafios que podem ser impactados pela IA e a tecnologia Blockchain. “O que tá faltando é um outro tipo de relacionamento. O assessor de imprensa hoje tem um papel mais importante do que tinha antes. Não é só o cara que faz o release, distribui e fica batalhando para o assessorado dar entrevistas. Se ele mandar um texto bem feito, do jeito que as pessoas estão carentes de conteúdo, esse texto vai para a publicação imediatamente. Eu acho que o assessor de imprensa mudou o tipo de trabalho que ele desenvolve e nem todos perceberam isso”, conta a jornalista Eleonora Paschoal. 

Em um exemplo que fala sobre o receio que o mercado tem diante das mudanças, Pedro Cadina, jornalista e CEO e fundador da agência Vianews, conta a sua experiência. “Há 37 anos, quando fundei a Vianews, o assessor não era bem-vindo entre os jornalistas. Havia uma certa desconfiança de que o assessor estava ali para atrapalhar, para evitar que determinados assuntos fossem publicados, para “dourar a pílula”. Hoje, não. Hoje o assessor é visto como um colaborador.”

Ferramentas de Mailing 

Quem está do lado da assessoria de imprensa sabe que um dos principais desafios é criar mailings direcionados para que o contato com o jornalista seja eficiente sem gerar incômodos. É notório que caixas de entrada abarrotadas de releases que, muitas vezes, nem estão direcionados, não geram retorno e podem desgastar o relacionamento.

Esta questão costuma ser potencializada pelas ferramentas de mailing disponíveis no mercado por conta de trabalharem com processos desatualizados e oferecerem informações confusas. Sem contar que apesar de conseguirem gerar um certo resultado, costumam ser muito caras e distantes das reais necessidades do mercado atual. 

Desta maneira, além do uso dos grupos de WhatsApp que contribuem para um relacionamento entre assessor e jornalista mais alinhado sem cobrar nada por isso, as mudanças trazidas pela IA também podem representar grandes avanços em proximidade objetiva. 

“Para melhorar este relacionamento, a IA pode auxiliar na construção de um mailing que indique os veículos mais alinhados ao conteúdo que se quer divulgar, evitando que uma pauta genuinamente de esportes vá parar na caixa de e-mails de um repórter de política, como acontece hoje. Ajudaria, talvez, a reduzir a quantidade de contatos de follow-up dos quais os jornalistas reclamam”, diz Ricardo Muza, jornalista com especialização em Comunicação Corporativa.

Dentro deste contexto, a jornalista, assessora de imprensa e locutora profissional, Ida Nuñez destaca sobre a necessidade de se preparar e se manter antenado para facilitar a dinâmica de relacionamento e trabalho. “A longevidade é um assunto que interessa a todos porque quem não morrer, ficará velho então quanto melhor estiver preparado, quanto mais antenado com o que acontece e com as novas tecnologias, conseguirá se adaptar com mais facilidade às mudanças. Eu uso todas as tecnologias possíveis, trabalho com três celulares, um tablet, dois computadores e consigo ter uma boa velocidade. Ganhar tempo no meu trabalho me ajuda a viver melhor. Essa é a minha colaboração.”

Veracidade das informações com as novas tecnologias

Uma dúvida recorrente em relação às informações criadas com as novas ferramentas tecnológicas é sobre a veracidade. Em um texto simples feito pela IA, costuma ser rápido verificar a coerência do resultado. Agora, como ficam os conteúdos mais complexos, com levantamento de dados e conteúdos sensíveis que exigem bastante responsabilidade do jornalista na publicação? 

Isso interfere também na dinâmica entre jornalistas e fontes, como pontua Ricardo Muza, jornalista com especialização em Comunicação Corporativa. “As fontes que acreditarem que podem interagir direto com os jornalistas, se não estiverem muito bem preparadas, estarão muito expostas e com grandes chances de criar problemas para elas mesmas. Como dizemos, é preciso anos para construir uma reputação e apenas alguns segundos para acabar com ela. Uma palavra mal colocada, pode derrubar as ações de uma companhia ou levar à demissão desses profissionais.”

Apesar dos resultados impressionantes da IA generativa, a curadoria de informações feitas pelo jornalista passa a ter um papel indispensável por conta da possibilidade deste tipo de tecnologia “alucinar”. Isso porque, em alguns momentos, os algoritmos se comportam de forma diferente do que é esperado diante dos comandos enviados. 

Eles podem oferecer respostas fora de contexto ou erradas e gerar armadilhas em perguntas que envolvem distinções entre interpretações, por exemplo. No ChatGPT, existe uma dificuldade na hora de generalizar o que viu de matemática na internet e resolver operações básicas. “É como se fosse parafrasear algo, só que com o agravante que não tem rastreabilidade de fonte. O ChatGPT puro faz o texto como se estivesse blefando. Particularmente, tenho um temor em relação a isso, porque pode ser que esteja tudo certo ou não”, diz Arthur Igreja, TEDx Speaker, Especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências.

Esta questão torna as adaptações do jornalista ao uso da IA generativa ainda mais necessária no trabalho de filtrar conteúdo, conseguir direcionar os prompts certos e impedir que aconteça uma espécie de massificação das informações construídas por meio da tecnologia.   

IA criativa 

Com a recente adoção da IA generativa ao dia a dia das pessoas, é comum vermos confusões sobre a capacidade criativa deste tipo de ferramenta. Engana-se quem pensa que a IA somente usa um banco de dados pré-estabelecido e liga pontos. 

Diferente da Web2, em que realmente acontecem consultas ao banco de dados para obter parte armazenada de conteúdo antigo do centro da rede até o usuário no computador, a Web3 traz muitas possibilidades de criação. 

A IA generativa muda a topologia da internet porque agora peças únicas de conteúdo são geradas na borda da rede em tempo real após uma solicitação. Estas peças se desdobram com a criação de conteúdo completamente original e criativo. Ou seja, não é preciso ter nenhum dado sobre o assunto na rede para que uma notícia seja criada. 

Um exemplo muito interessante aconteceu durante o período de testes do JOR-GPT na comunidade JOR, nos grupos do WhatsApp. Uma nota gerada pela IA descreve que um homem atropelou uma vaca voadora e fugiu em um disco voador. Isso com aspas de entrevistados e regras de SEO. Obviamente, esta notícia nunca aconteceu e nem foi registrada em banco de dados, o que mostra a capacidade de criação orgânica da IA generativa e traz algumas preocupações relacionadas. 

Fake News   

Um dos principais pontos desafiadores no mercado atual em relação à credibilidade e disseminação de conteúdo, envolve a criação de Fake News. Diante de uma IA generativa que possui a capacidade de produzir uma notícia inexistente em segundos e robôs com capacidades, inclusive, de interpretar sentimentos dos textos e acesso facilitado, os impactos no jornalismo e nos códigos de ética precisam ser considerados. 

“Essa é certamente uma ótima forma de uso para a tecnologia – detectar padrões de redação ou inconsistência nos dados que caracterizam uma notícia falsa. Contudo, uma notícia pode se tornar absurdamente diferente com o deslocamento de uma vírgula, mantendo intacta sua estrutura e dados. Acredito que a tecnologia será capaz de fazer grande parte do serviço, mas teremos também gente mal intencionada munida com a mesma tecnologia”, fala Eduardo Salvalaggio, CEO da Dishubtive. 

Pedro Cadina, jornalista e CEO e fundador da agência Vianews, defende que a tecnologia pode ser usada de diferentes formas. “Agora o principal é saber que a tecnologia, não só na área de comunicação, como em todas as demais, é, até certo ponto, uma ferramenta neutra. Isso significa que você pode utilizá-la tanto para o bem quanto para o mal. E no caso dela ser utilizada para desenvolver atividades, ela pode ser muito bem-vinda para o jornalismo e para os trabalhos de relações públicas e assessoria de imprensa.”

Já a jornalista Eleonora Paschoal acredita que o desafio em relação às notícias falsas passa também pela interpretação da audiência. “As pessoas consomem muito mais informação e notícia hoje do que consumiam há 20 anos, 30 anos. Elas têm um desafio que é saber separar o que é realmente verídico do que é ficção e mentira.     

Violação de diretrizes

Outro ponto positivo para o jornalista é que as ferramentas de busca, como o Google, informam que textos produzidos por “IA” violam as diretrizes para webmasters e serão tratados como Spam, como pode ser visto neste post publicado no Medium.

Logo, eles não serão ranqueados nas páginas de resultados e podem até ocasionar penalizações graves para o caso de plágio e outras infrações. Aqui entram duas dúvidas:

  1. como o Google vai identificar que o texto original foi produzido por IA?
  2. será que a hegemonia do maior buscador do mundo está ameaçada? 

A segunda dúvida é bastante coerente, uma vez que é provável que exista uma redução das pesquisas no Google e um aumento da interação com a IA, que responde às dúvidas de forma original, objetiva e personalizada. Ou seja, sabe aquela corrida para aprender SEO e adequar as técnicas ao jornalismo? Pode ficar ultrapassada em breve.

“As ferramentas e técnicas de redação não são exatamente novas. O que a IA faz é automatizar ainda mais tarefas de produção de conteúdo, que podem resultar em falsa autoridade ou relevância para seu produtor. Contudo, o Google e a maioria dos outros portais de busca estão investindo bastante para detectar/punir conteúdo automatizado ou não original. Mais uma vez, um bom editor/curador pode e deve utilizar um texto gerado por IA como base, colocando seu ‘tempero’ ou a identidade da marca que representa. Com a IA generativa isso também pode ser emulado, o que demandará desses profissionais conhecimento mais aprofundado sobre a tecnologia”, diz Eduardo Salvalaggio, CEO da Dishubtive. 

De toda forma, ainda é cedo para termos essas respostas. E cabe ao jornalista estudar e se manter atualizado para não ser atropelado pelo robô da IA ou envolto na cadeia de blocos do Blockchain. 

Consequências das evoluções

Podemos ver que a IA generativa e a Blockchain fazem parte da nova mudança histórica no jornalismo de várias maneiras. Muitos veículos fecharam ao longo do tempo e deixaram a lição do quanto pensar adiante é importante. Na situação atual do mercado, já nem causa mais surpresa quando uma lista de jornalistas considerados veteranos são demitidos porque jornais e revistas perderam espaço para novas tecnologias. 

Fernando Resende, precursor na criação de negócios na Web2 e na transição para a Web3 com investimentos em NFTs segmentados com a coleção PPK Models Club, acredita que passamos por algo extremamente decisivo “estamos vivendo um momento divisor de águas. Para aqueles profissionais da comunicação que souberem aproveitar, existe uma janela de oportunidades que pode trazer ganhos significativos e destaque na profissão. Para os que ficarem estagnados, a dura realidade é que a profissão está, sim, ameaçada.”

E isso é uma questão que acontece desde a era da “prensa” em que sempre que algo novo chega ao segmento, muitos sofrem as consequências das mudanças. Seja pela descrença de que uma novidade vai tirar o lugar de algo já consolidado ou por pura acomodação, a verdade é que o jornalismo é um organismo vivo que cresce, se molda e evolui conforme o que acontece no mundo.

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