Novo álbum e luto pela perda da filha são motes de entrevista exclusiva de Jane Birkin à ELLE Brasi

Cantora-atriz-modelo, Jane Birkin, a mais francesa das inglesas, sempre foi a centelha para a criação de obras atemporais, da moda à música, seja no presente ou no passado. Com um álbum de inéditas recém-lançado (tido como o projeto mais pessoal da sua carreira, até agora), la muse falou com exclusividade à ELLE Brasil sobre arte, luto, a transformação após o suicídio da filha Kate, e também sobre a conexão eterna com Serge Gainsbourg. A nova edição da ELLE, “Metamorfoses”, já está disponível nos canais digitais da revista. 

Atriz de mais de 70 filmes, que vão de Jean-Luc Godard a películas de suspenses baseadas na obra de Agatha Christie, Jane Birkin consagrou-se mesmo como intérprete das canções eróticas de Serge Gainsbourg, morto em 1991. O ex-casal é uma espécie de baluarte, de semideus, da cultura francesa. Junto com Charlotte, filha de ambos, chegam o mais próximo possível de uma realeza (o mais perto, claro, que a nação orgulhosamente republicana se permite a ter). Um dos ícones do estilo francês, Jane foi eternizada ao inspirar e batizar uma das bolsas mais cobiçadas do mundo, a Birkin, da Maison Hermès, criada em 1983 para atender aos desejos da musa por mais conforto e praticidade.

“No começo, pensei ‘por que eu não ganho uma porcentagem disso?’ Mas eu era muito ingênua na época e fiquei muito feliz que o presidente da Hermès quisesse fazer uma bolsa como a Kelly (bolsa da grife que ficou conhecida assim por ter sido usada por Grace Kelly, na década de 1950). Estava terrivelmente lisonjeada e muito orgulhosa de ter meu nome nela. Mas o engraçado é que, nos países em que não me conheciam muito – e por que me conheceriam? –, passaram a me reconhecer por causa da bolsa”, diverte-se Jane Birkin, entrevistada por telefone, da capital francesa, pela editora da ELLE Brasil Bruna Bittencourt.

No bate-papo exclusivo, a diva fala sobre o seu mais recente disco, “Oh! Pardon tu dormais” (Oh! Desculpe, você estava dormindo), primeiro álbum de estúdio em mais de dez anos. O projeto tem Étienne Daho, referência do pop francês, como grande parceiro de Jane. As letras tomam emprestados diálogos de um filme escrito pela diva nos anos 90 – e posteriormente adaptado à uma peça -, que inspirou o disco, além de uma página do diário da cantora e atriz. Nas palavras da musa anglo-francesa, o álbum fala sobre a frustração de estar com alguém que não nos ama, ou não corresponde aos nossos anseios. 

Para além das frustrações amorosas, pela primeira vez Jane Birkin trata diretamente, na canção “Cigarette”, sobre a morte da filha Kate, fruto de seu casamento nos anos 1960 com John Barry (1933-2011), compositor do famoso tema de James Bond. “Quando eu escrevi a música, me lembrei do lugar que a colocaram quando ela morreu, do seu rosto, do seu cabelo. Tudo voltou, não de uma forma assustadora, apenas de uma forma bem precisa”, revela. Ainda na seara da música, a musa também falou sobre a sua maior parceria na vida artística (e pessoal). “Desde a minha estreia, cantei os sentimentos de Serge. No começo, ele fez músicas para mim, como ‘Di doo dah’, ‘Mon amour baiser’ e ‘Ex fan des Sixties’. Elas eram charmosas, doces e engraçadas. E, então, eu o deixei. E elas se tornaram bem mais interessantes. Percebi que estava cantando a tristeza dele, sua dor, seu remorso, e eles eram mais interessantes do que os meus próprios sentimentos”, conta. 

“Então, cantei ‘Amours des feintes’, ‘Fuir le bonheur de peur qu’il ne se sauve’. É Serge falando. Ele me deu músicas tão bonitas para cantar, que eram sobre sua dor. Era também estranho, porque era eu quem provocava aquela dor. Mas senti que era tudo o que podia fazer para ainda manter contato com ele, para ainda ser sua parceira, apesar de não estarmos morando juntos”, recorda. “O último álbum que ele escreveu, ‘Amours des feintes’ (1990), foi para mim. Fui sua intérprete e acho que fui uma boa intérprete. Quando alguém lhe perguntou: ‘O que você gosta na Jane?’, ele disse: ‘Emoção’. Ele reconheceu que havia uma emoção na minha voz que traduzia suas letras perfeitamente. Fiquei honrada em ter isso. É por isso que nunca pude deixá-lo ir. Sei que tive as mais lindas palavras nas mais belas melodias”, completa. 

Na entrevista, Jane Birkin também contou sobre a parceria com Caetano Veloso, com quem gravou “Leãozinho”, para o seu disco “Rendezvous”, de 2004. “Fui ao show dele em Paris e o conheci depois. Foi tão adorável cantar com ele. Ele foi tão encantador! Que sedutor… é simplesmente adorável, pequeno, requintado. Me diverti muito. Tive muita sorte porque acho que ele não sabe o que significa para mim cantar com ele. Eu o vi cantando no filme de Almodóvar, ‘Fale com ela’ (2002), que devo ter assistido umas seis vezes. Adoro esse filme. Me senti muito privilegiada”, garante. 

À ELLE Brasil, a eterna musa, que é um ícone fashion há décadas, falou sobre a sua relação com a moda. “Vou lançar uma coleção-cápsula para a A.P.C., a marca francesa, para mulheres de 60 anos que querem se sentir confortáveis. Fiz um cashmere e calças de veludo cotelê bem folgados, um tênis e um casaco masculino, que são o que eu procuraria. Acho que roupas masculinas são provavelmente a solução porque você fica tão bem quanto os homens, ou pelo menos não tão terrível como eu, ao me vestir como uma mulher, de terno, blusinha, maquiagem e cabelo feito. É preciso tomar cuidado com a maquiagem depois de certa idade, pois ela faz você parecer assustadora. Sou a favor de tudo que faz você se sentir bem, feliz”, afirma. 

O volume 04 da ELLE Brasil, em acabamento luxuoso de livro, chegou no dia 21/05 às plataformas digitais. “Metamorfose foi o conceito que escolhemos para nortear esta edição. Tudo a ver também com o momento de isolamento e transformação que estamos vivendo e a analogia perfeita para a atriz Bruna Marquezine, fotografada pela primeira vez para a ELLE, em uma capa que já nasce histórica – a primeira de uma publicação de moda brasileira feita com o método de impressão lenticular, que possibilita o movimento em duas dimensões”, conta Susana Barbosa, diretora editorial.

Com exclusividade à revista, a atriz brasileira falou sobre amor, trabalho, posicionamentos e também sobre as consequências da hiperexposição. Do relacionamento recente com Enzo Celulari, a decisão de assumir o comando da própria carreira, Bruna Marquezine tratou, sem ressalvas, sobre o processo de amadurecer, cercada pelos olhares e pelas expectativas do público.

A nova edição ainda traz a estilista holandesa Iris Van Herpen, contando como une trabalho artesanal e alta tecnologia para criar suas coleções arrebatadoras. O imaginário nacional, a vida secreta das plantas e até Kafka inspiram 44 páginas de editoriais de moda clicados por Gleeson Paulino, MAR+VIN e Paulo Vainer. A pandemia e as novas coleções: como o desejo por proteção, conforto e praticidade influenciaram o que vemos nas passarelas da temporada. E ainda: entrevistas com Gottmik, Lisa Eldridge, Amalia Ulman e Sandor Katz, a neo-neopsicodelia, upcycling na indústria do luxo e muito mais!

Foto: Divulgação

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